Outra possibilidade...
A culpa, a culpa é algo que me visita de quando em quando. O querermos ser o mais próximo possível da perfeição, o querermos ter um impacto positivo na vida daqueles pequenos seres, o querermos que cresçam adultos saudáveis, fortes e livres de traumas de maior.
A culpa, a culpa visita-me naquilo que mais me preocupa na vida da Alice (nada grave, é certo): o sono. As sestas e a hora de deitar são quase sagradas, não havendo um desvio padrão muito acentuado. Assim sendo, tudo é planeado consoante as suas horas de sono. Os jantares são quase sempre em casa por causa da hora de deitar, se forem em casa de amigos são marcados às 18h por causa da hora de deitar. Mesmo assim, já não se mantém as 20h30/21h, já a coisa estica para as 22h/22h30 e aí a culpa cresce, cresce ligeiramente porque ela não irá dormir o suficiente, porque ela, ao contrário de muitas crianças, não recupera na hora do acordar, mantendo o despertar pelas 7h/7h30.
E as sestas, ai as sestas. Almoço fora de casa? Huummm... só se for em casa dos meus pais. Onde ela entra e segue direita para a cama, já de barriga cheia e sem ver ninguém. Dorme lá sestas como se fossem as últimas da sua vida, nunca menos de 4h seguidinhas.
O outro dia tivemos um almoço com pessoas amigas que vinham de longe. Aquilo já me estava a dar um nervoso miudinho. Perguntava a B.: "E a sesta dela?" Ele: "Dorme no carro!" Eu: "Será pouco tempo?" e já me imaginava a ficar sentada no carro para que dormisse mais. Peguei num livro e levei-o comigo. A coisa podia demorar. Cheguei a pensar que não almoçaria, que não me importaria só para que dormisse mais. Eu sei, sim eu sei que a culpa é coisa de virar monstro sem razão num abrir e fechar de olhos. Não disse nada a B. pois diria que estava tola. Disse-me: "Levamos o carrinho de passeio e ela dorme nele." Pois sim, tirar do carro, colocar no carrinho uma miúda de quase 2 anos e meio e ela ficaria a dormir, sim, sim. Lá vão os tempos que dormia no ovo em qualquer lugar e a qualquer hora, pensava eu.
A viagem longa, 1 hora de caminho e ela a dormir a viagem toda. Chegamos ao restaurante e ele, numa certeza que tem e que eu muitas nem a sombra dela tenho, tira da cadeira do carro, coloca na cadeira de passeio, embala e fala de forma doce e lá a consegue faze-la dormir por mais 2 horas, durante todo o almoço.
Não é o mesmo que a cama, o quarto mas reconheço que aliviou a culpa. 3 horas de sono na sesta fizeram-me mais feliz e menos culpada.
Mas a culpa, essa culpa é tramada e mexe connosco. Muitas outras culpas virão e a perfeição nunca chegará. Fazer o melhor, procurar fazer o melhor deveria chegar para não sentir culpas, culpas de passar muito tempo longe, culpas de nem sempre cumprir os horários de sono e alimentação, culpas porque caiu mesmo aos nossos pés, culpas porque se gritou sem razão, culpas por se sentir tantas culpas...