Do blog
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Imaginem que a rapariga da fotografia sou eu. Podia ser. Não tenho sardas e não sou tão nova mas, tal como ela, sou mãe. Imaginem que estava sozinha, que mámen tinha morrido, que era viúva como a Vanessa, a rapariga do retrato.
E imaginem que este rapazinho era uma menina, que o Rodrigo era a Ana. A Ana que vocês souberam que viria num dia de Inverno, música de Sérgio Godinho, num pedido que espalhassem a notícia da alegria que mal me cabia no coração.
Imaginem que era diagnosticado à Ana um cancro com pouco mais de dois anos de vida. A mesma Ana, cujas histórias de gravidez vocês acompanharam a par e passo, para quem enviaram pensamentos positivos a cada sobressalto, por quem, genuinamente, ficaram felizes quando chegou a este Mundo, tornando-se sobrinha quadripolar de todos vós.
Imaginem que a Ana estava a morrer. E que eu deixava de escrever, deixava de ser alegre, de ter bom humor e passava a viver um pesadelo. Que tentava com todas as minhas forças salvar a minha filha, aquela cujos olhos azuis já vos descrevi, os que me enchem a alma e os dias de um amor que transborda do peito. Imaginem, mais uma vez, eu sozinha, sem mámen, exausta, com a única responsabilidade de lutar para que a Ana sobrevivesse. Sem garantias mas com o dever de qualquer mãe: de a proteger, se fosse preciso, com a minha própria vida.
Imaginem que no final de tratamentos violentíssimos o corpo da Ana não reagia e que se constatava que tinha 90% das células infectadas. Imaginem que a Ana estava a morrer e eu precisava de vocês, de ti e de ti, da tua família, dos teus amigos, de todos.
Que eu precisava de ideias para ir procurar ajuda, de moradas de hospitais, médicos, de contactos, de ajuda monetária, de convencer toda a gente que estivesse ao meu alcance a doar medula, numa esperança, ínfima que fosse, de enganar o tempo e travar a puta da doença.
Imaginem que eu tirava este retrato: da minha filha cansada, doente, desanimada comigo a segurar-lhe o rostinho, pequenino, desesperada, sem ânimo, energia ou força mas com a única ideia de salvar a minha filha.
Imaginem que eu não estava a escrever este texto com lágrimas nos olhos, com as mãos a fazerem figas e a bater na madeira, em jeito de superstição e imaginem que tudo isto era real para mim e para a Ana.
Imaginem que podiam fazer algo por nós. Faziam-no?
Vamos fazer pelo Rodrigo? Antes que o tempo acabe?
Contribuam monetariamente para se juntar dinheiro para se poder, se for preciso, partir com o Rodrigo para o fim do Mundo, que seja, para o curar.
Titular: Cátia Vanessa Zeferino Patusco
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