Ao fim de quase ano e meio, sinto-me preparada para deixar a Alice por algumas horas ao cuidado de outra pessoa que não o pai. Ao fim de quase ano e meio sinto vontade de ver um concerto ou ir a um jantar com o meu cúmplice deixando o nosso rebento ao cuidado de alguém de confiança e de cadastro criminal livre de penas pesadas (multas e dívidas não contam).
Ao fim de quase ano e meio eu sinto e preciso de cortar o cordão umbilical. Acredito que é um passo em frente. Acredito que é bom para mim enquanto pessoa e mãe e para os 3 enquanto família.
Mas ainda não será desta... o meu cúmplice e parceiro afirma que não se encontra preparado. O fato de ser ele a cuidar da Alice durante o tempo todo em que trabalho ou tenho algum compromisso inadiável reforça esse cordão umbilical e, se por um lado, podia levar a uma maior necessidade de tempo a sós ou com outros seres, por outro, estreita a ligação entre ambos, o medo de não controlar os acontecimentos quando não estão juntos e a sensação que ninguém tem a atenção e cuidado que um pai/mãe tem sobre a sua cria.
Todos nos dizem o mesmo, inclusive a pediatra: é importante o tempo a dois, é importante o tempo entre adultos, é importante o corte, é importante deixar ao cuidado de outros. Eu sei, eu acho que ele também sabe, eu acho que já consigo, ele diz que não consegue.
Os nossos tempos a 2 é sempre em casa, com a sorte que ela vai para a cama cedo (20h/20h30, na exceção 21h), em que jantamos sempre juntos, às vezes cedo, em grande parte já muito tarde quando chega do trabalho. Ainda existem as sonecas da Alice que nos dão algum tempo de namoro à luz do dia, quando a roupa está estendida ou o lava-loiças não tem loiça empilhada ou quando fechamos os olhos a tudo o resto.
O romance transforma-se. Há dias que é que até é melhor do que quando não havia choros de criança outras vezes sentimos saudades do tempo em que qualquer hora era uma boa hora para beijos e abraços. No entanto, o importante é sentirmos que não trocávamos este tempo por qualquer outro tempo. O importante é sentirmos que continuamos um para o outro.
Se há mais falta de tempo a dois, há, claro! Agora o tempo é muito a 3 ou aos pares (mãe/filha e/ou pai/filha).
Vamos vivendo e aprendendo, vamos construindo um caminho e uma relação diferente, vamos por tentativa erro, vamos por conquistas, vamos juntos.