Nem sempre tive a certeza que queria ser mãe. Nunca foi um sonho de vida, uma aspiração como tantas mulheres têm. Era feliz, era muito feliz... No entanto, uma coisa tinha a certeza, a certeza de um arrependimento avassalador quando chegasse aos 60/70 anos (
se chegasse) sozinha... (
entenda-se este sozinha sem filhos).
A vontade da pessoa que estava comigo ser pai era muita e talvez isso tenha sido determinante para embarcar na aventura. Sim, vamos, vamos ser pais! E nesse momento, nessa decisão de ter um filho vinha logo outra por acréscimo: não pode ser filho único! Esta era a minha crença! Não me via como mãe de um só filho, não via o meu filho como filho único. E nem quando saí da maternidade com a barriga cheia de agrafos, ainda atordoada de morfina e com um bebé nos braços, deixei de ter essa vontade de ter mais filhos. Queria mais, mais um!
Sabendo das noites, dos dias, dos valores, da logística, do cansaço, dos gritos e choros, do nosso desespero momentâneo, queria mais, mais um!
E mais porquê?! Sim, já era mãe! Já tinha uma filha! Já sabia o que era realmente um amor incondicional e avassalador que nos deixa sem respiração!
Queria mais porque precisava descentrar-me da minha filha, precisava dividir-me com outro filho para que o amor multiplicasse, precisava tirar-lhe atenção de cima para que outras atenções caíssem sobre ela, precisava de um outro filho para não esperar tudo desta filha, para não lhe pedir tudo, precisava relativizar a maternidade, precisava de mais gritos em casa, mais vozes de crianças, precisava de lhe dar uma companhia sempre que não pudesse estar com ela, precisava de lhe dar um amigo de sangue, precisava de me dar outra parte de mim fora de mim.
Sim, eram muitas as razões para ter outro filho mas também existiam tantas razões para não ter mais: conseguir dormir a noite toda, conseguir dedicar-me mais à carreira profissional, conseguir ter mais tempo de casal, conseguir fazermos mais viagens a 3, conseguir libertar a casa de apetrechos de bebés (ocupam tanto mas tanto espaço), gastar menos dinheiro ou gastar o mesmo mas não mais.
E sim, sabia que talvez não desse o mesmo ao segundo que dei ao primeiro, o tempo seria menor, a atenção menor, a paciência menor e o cansaço bem maior. Sabia que teria de tirar a Alice da natação temporariamente por questões de gravidez final e logística, sabia que ela talvez tivesse menos brinquedos no futuro, sabia que nos chocaríamos mais uns contra os outros, sabia que a minha memória ficaria mais reduzida com noites mal dormidas, sabia que o segundo filho não teria um colo exclusivo, tempo exclusivo como o primeiro teve.
Mas isso nunca me fez confusão, nunca pensei duas vezes que a Alice teria menos roupa ou brinquedos porque chegaria mais um filho, nunca me culpabilizei porque a teria de tirar de uma ou outra atividade porque teria um irmão.
E essa culpa não existia nem nunca chegou a existir porque algo estrondoso permiti que acontecesse. Um outro filho para mim e para o pai e um irmão para a Alice. O futuro é incerto, a relação que eles irão construir é desconhecida, a família que estamos a construir transforma-se no dia-a-dia... mas... o amor, o amor que se vive não duplicou com um novo filho, aumenta ao quadrado para cada um de nós. Estamos mais cansados, talvez mais irritados em certos momentos, dormimos bem menos mas alguém, alguém que podia nunca ter aparecido chegou e arrasou-nos por completo de amor, tanto mas tanto amor!
Se houver por aí alguém que tenha dúvidas se será possível amar tanto um outro filho quando já se ama infinitamente um? Sim... sim, é possível e o amor por ambos cresce e nós crescemos com ele.
Todos ganham nas perdas que possam existir (de tempo, paciência, atenção ou bens materiais) porque ganha sempre o que é realmente importante - o amor!
"António, vieste ensinar-nos que quando se tem mais de um filho o amor cresce no peito e aumenta por cada um deles. À tua irmã ensinarás que o amor entre irmãos é algo único e impagável."