Impossível não nos pesar na consciência

Tenho ido ver a minha avó ao hospital todos os dias. Agora que o fim se aproxima parece que nos colocamos todos em sentido e despertamos da dormência diária que muitas vezes toma conta de nós.
Acho que nunca na história daquele hospital um doente deve ter recebido tantas visitas. E isso não é pela minha avó ser mais amada que qualquer outra pessoa que, infelizmente, vai lá parar mas é, sem dúvida, porque a minha avó deve ter a maior família que qualquer outro doente.
As visitas têm sido de 10 minutos e, às vezes, até menos. Sempre com mais 6, 7 ou 8 pessoas à espera de subir. E vamo-nos encontrando todos no hall do hospital, primos, tios, irmãos, cunhados... é bom cruzarmo-nos pois nem sempre a vida nos permite mas o motivo é o pior de todos.
Rimos entre lágrimas, dizemos tolices, contamos histórias do passado, abraçamos e beijamos quem vai chegando numa espécie de despedida...
Agora vou ver a minha avó todos os dias em visitas tão curtas quando sempre lhe pude visitar no tempo todo que eu quisesse. E é sempre assim e parece que nunca aprendemos porque somos programados para acreditar que vamos ficar para sempre e que os nossos mais amados ficarão para sempre e mais um bocado. Ainda bem que assim é. Seria muito difícil conviver com a perda iminente mas também é mau quando adiamos para amanhã e depois de amanhã a visita, o abraço e o beijo daqueles que mais amamos.

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