A ursa decidiu não amamentar, a pipoca mais doce decidiu não amamentar e ambas deram origem a um sem fim de comentários e a uma polémica à volta das mamas de quem é recém-mãe.
Vou partilhar a minha curta experiência tentando não tecer julgamentos sobre mamas que não forem minhas.
Durante a gravidez decidi que queria amamentar e que iria tentar superar todas as dificuldades para dar aquilo que achava ser o melhor para a minha filha no que dizia respeito à alimentação e seu crescimento. A minha meta eram 4 meses de amamentação exclusiva (o período da minha licença) o que viesse a mais seria por acréscimo.
Mal ouvi que ia nascer por cesariana tive medo que isso influenciasse um início positivo. Já no recobro colocaram-me a Alice à mama e ela revelou-se menos medrosa do que a mãe. Pegou bem no mamilo e mamou. Foram alguns minutos e eu ainda estava meia abananada da cirurgia. Começou a berrar a plenos pulmões e a enfermeira foi-lhe preparar um biberão para lhe dar. Um novo medo de rejeitar a mama porque o biberão é tão mais fácil para os bebés. Quis dizer que não, para não darem o leite adaptado mas não tive forças e não queria que ela passasse fome.
Lembro-me da enfermeira dizer: Esta bebé tem boca de mama! (De tanto que abria a boca e tentava abocalhar a tetina, não se ajeitando ao biberão)
Na maternidade fui dando sempre mama e por 2 ou 3 vezes pedi um biberão porque ela berrava tanto, interruptamente, minutos e minutos que me pareciam horas. Tive receio de ser fome.
Em casa as coisas foram correndo melhor porque ela ia aumentando sempre de peso. Contudo, mamava quase sempre de 1h30 em 1h30m, raramente aguentava as 2h fosse de dia, fosse de noite.
Em muitas alturas pensei: Agora percebo porque tantas mulheres optam por não amamentar.
A subida de leite foi sem dores nem febres mas tive gretas, tive momentos de cansaço extremo, tive noites quase em claro e meses a fio em que dormir 3 horas seguidas era motivo de festejo. Senti que se não tivesse tão determinada tinha desistido ao fim de uma semana.
A Alice mamava bem, tinha uma boa pega mas adorava estar à mama. Ficava uma hora à mama para passado uma hora voltar. Durante semanas tive a sensação que andava com ela colada ao peito. Não me podia ausentar dela por mais de 60 minutos, não podia ir à ginástica sem a levar comigo atrás, não podia dormir descansada sem a ter que a colocar ao peito mal abria a goela.
Mas quis continuar, tive vontade de continuar... até aos 9 meses em que pensei cortarmos este elo sem dramas nem choros. Correu bem apesar da minha ansiedade pois a Alice adorava mamar.
Nessa experiência posso apresentar pontos positivos e negativos, sendo que o meu balanço é bastante positivo. Nem vou para a parte dos nutrientes que é mais que sabido e estudado, vou para os outros:
Positivo:
1. Não se gasta 1€ que seja. Numa altura em que se gasta tanto a poupança sabe sempre bem;
2. Não há biberões nem esterilizações;
3. Está sempre à temperatura certa;
4. Pode-se dar em qualquer lado e a qualquer hora sem precisar de mais nada;
Negativo:
1. Não te podes ausentar por mais de 1h ou 2 horas (há sempre as bombas e o LA mas eu, de início, não tinha bomba nem queria dar leite adaptado);
2. Durante a noite és a única fonte de alimentação não podendo dormir por muito tempo;
3. Durante o dia és a única fonte de alimentação não podendo passar a tarefa para a avó, pai, tia ou visita;
4. Tens que pensar 2 e 3 vezes no que vais vestir da cintura para cima para dar jeito de amamentar sem ficar em tronco nu;
5. Só tiramos o soutien para tomar duche;
6. Não podemos deixar as mamas em casa e ir à esteticista ou ir desanuviar a cabeça;
7. Não sabes o que ele comeu e ficas sempre na dúvida se terá comido bem ou não. Com o tempo e a balança percebes que se deixares ele ir ao peito de forma livre, sem horários rígidos ele alimenta-se o necessário para o seu crescimento.
Se voltasse atrás fazia tudo de novo, só não ficava tão ansiosa nos primeiros tempos.
Eu percebi que isto da amamentação tem muito que se diga e que, por mais que tentemos, é difícil não fazermos julgamentos. Se não querem amamentar, ai que más que são porque não dão o melhor aos filhos. Se querem amamentar e o fazem até muito tarde, ai que más que são que ainda dão peito e eles são grandes e não precisam. Se amamentam, ai vê lá se não é melhor dar um biberão de leite adaptado que a mama não chega.
Eu sofri na pele a última situação. Tive uma bebé que nasceu de 4250gr. Até aos 4 meses alimentou-se apenas de leite materno e manteve sempre o percentil 90/95 e inúmeras vezes me tentaram convencer a dar um biberão de leite adaptado de vez em quando, como se o leite materno não fosse suficiente.
Sim, acredito que não fosse suficiente se ela mamasse de 3h em 3h ou 4h em 4h porque aquele corpinho Danone pedia mais. Mas ela mamava em intervalos mais curtos e se passado 1h mostrasse insatisfação em vez do LA dava mama novamente. Eu controlava o intervalo das mamadas apenas para minha orientação porque não cumpria nenhum horário. Ela chorava eu via fralda e roupa e se não era nada disso, experimentava a mama. Mamava, calava, tudo ok. Dá mais trabalho, dá! Dá mais dependência da mãe, dá! Dá menos liberdade à mãe, dá! É o melhor em termos de alimentação e proteção, é!
Eu fiz a minha escolha, sabendo e sentindo os prós e os contras. Farei o mesmo nos próximos apesar de saber que a disponibilidade de andar com um bebé à mama já não será total.
6 comentários:
Gostei de ler. Ainda ontem falei sobre o assunto porque ao ler os comentários ao post da Pipoca assustei-me com alguns comentários mais fundamentalistas. Eu ainda dou de mamar, já lá vão 13 meses. Ela já só mama de manhã e antes de dormir, por isso já não sinto essa dependência. Nunca senti a sina das noites mal dormidas porque logo a partir dos primeiros meses foi sempre fazendo intervalos cada vez maiores, até aos 7 meses ter começado a dormir a noite toda, sem acordar para mamar. Ando a pensar em fazer o desmame mas está complicado porque ela não pega no biberão e já deu para perceber que não aprecia muito leite simples. A ver vamos...Acho que cabe à mulher decidir ou não amamentar, sem ser julgada ou criticada!
xoxo
cindy
Cindy, obrigada pela partilha. A minha enquanto mamou (até aos 9 meses) acordava várias vezes por noite para a mama. Nunca tinha feito uma noite completa. Isso deixava-me mais cansada.
Sim, acho que a escolha é de cada mulher mas confesso que estranho quem opta por vontade própria não tentar sequer a amamentação. Mas respeito, claro. Não é nada que me diga respeito.
A minha teve mama mas tinha um biberão por dia dado pelo pai com leite meu, quando voltei ao trabalho. Bebia bem sem qualquer rejeição. Os problemas começaram quando ele colocou lá dentro o leite adaptado. Cuspia, recusava-se a beber e passou a recusar a beber do biberão mesmo que lá tivesse leite meu.
Andou uns dias a colher e com muita paciência do pai lá voltou ao biberão.
Não é fácil... tentamos fazer tudo com calma e sem imposições. Tentar encontrar o ritmo dela.
bjs
A minha Alice fez a semana passada 10 meses e continua sem saber o que é leite adaptado ou biberons (estes sabe mas não lhes liga!). Come os alimentos e as refeições normais para a sua idade e continuamos com a maminha quando ela quer e eu sou feliz assim, não digo que não possa ser cansativo durante a noite, mas as vantagens são muitas mais. A minha Alice nunca bebeu suplementos e muitas vezes ouvia comentários sobre se o meu leite seria suficiente! Tão suficiente que a Alice sempres esteve bem de saúde e aumentar de peso normalmente. Já lá vão 10 meses e não sei quando terminará. Antes queria que fosse aos 12 meses, mas da forma que eu adoro amamentar, se calhar vai até aos 2 anos. Mas até é a própria da OMG que aconselha a amamentação até aos 2 anos: http://www.leitematerno.org/oms.htm Parece uma eternidade, mas o tempo passa a correr!
Assim como eu decidi amamentar, acto que achava horrível antes de ser mãe, acho perfeitamente normal quem não o quer fazer, porque sou a favor da liberdade de expressão e decisão e cada uma sabe o que é melhor para si e para os seus. Por isso não critiquem nem quem é "vaca leiteira" como eu e muitas outras mães, assim como não critiquem quem acha que as suas maminhas são sua propriedade e de mais ninguém. Quase todas as mães são boas mães e só querem o bem das suas crias.
Adorei o post, no entanto, gostaria de acrescentar algo mais aos aspectos positivos da amamentação:
- Previne o cancro da mama;
- É o leite mais indicado para as necessidades nutricionais daquele bebé especifico (estudos recentes comprovam que o leite produzido por uma mãe que teve gémeos em que apenas mamam na sua mama "preferida", contêm composições nutricionais diferentes, apesar da fonte de "produção ser a mesma!!!! Isto significa que cada leite é específico para cada bebé);
- Reduz a probabilidade da intolerância à lactose, logo as cólicas e afins;
- Está cientificamente comprovado que os bebés que amamentam adoecem menos vezes que os bebés amamentados ao biberão;
- É rico em anticorpos essenciais para conferir protecção imunológica nos primeiros meses de vida. Logo o leite materno é considerado a primeira "vacina" do bebé;
- Promove a vinculação mãe-filho e o sentimento de pertença e segurança;
- Contribui para a involução uterina, ou seja, a mãe que amamenta recupera a sua "linha" de forma mais rápida e eficaz;
- Não há necessidade de comprar biberões nem de esterilizá-los;
- Quem amamenta não necessita fornecer água ao bebé dado que o mesmo, na sua fase inicial, é mais águado precisamente para "matar" a sede;
- ....
Um sem número de vantagens, que a meu ver, incentivam qualquer mãe consciente que quer o melhor para o seu filho a adoptar. Qualquer pesquisa rápida pela net complementam as vantagens já referidas. Experimentem www.amamentar.net.
Claro que não é fácil mas o que é necessário é ter conhecimentos, motivação e muito apoio da família, principalmente do pai.
Não amamentar por razões injustificáveis ( a evidência cientifica não deixa ninguém impune nem de consciência tranquila) pode ser considerado um ato puro de EGOÍSMO e de cobardia perante um ser tão pequeno e desprotegido.
...
Kiduxa, parabéns pela menina de lindo, lindo nome :) Parabéns por amamentar e por continuar.
Pensei fazê-lo até aos 12 meses mas tive receio do corte porque ela adorava estar à mama. comecei a fazer gradual aos 9 meses mas numa semana ficou resolvido sem os dramas que tanto li.
bjs
Anónimo, todos esses fatores foi o que me levou a não ter dúvidas que amamentar seria um objetivo que não abriria mão.
mas as escolhas cabem às mães...
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