Antes de sentir qualquer um desses apelos, antes de ouvir as vezes que a Alice pedia um irmão (acho que quase não existiram de tão pequena que era quando engravidei a segunda vez), já existia em mim a vontade de duplicar o amor que sentia por outro ser.
Lembro-me de sair da maternidade com a barriga cheia de agrafos e a pensar (talvez ainda sob o efeito da morfina):"Não vou ficar por aqui! Esta não será a minha última vez!"
Os dias que se seguiram nem sempre foram fáceis mas a experiência pela qual estava a passar tinha-me levado para um mundo paralelo. Eu, logo eu que nunca tinha sonhado fortemente em ter filhos, eu estava a descobrir o segredo mais bem guardado: Ter filhos é maravilhoso! Afinal isso não era um mito urbano. Afinal isso não era a mentira mais bem contada para que a humanidade não tivesse um fim.
Estava a descobrir e a aprender a ser mãe. Uma descoberta e aprendizagem cheia de culpas, de gritos, de dúvidas mas também uma descoberta tão cheia de colo e mimo e amor. Felizmente nunca fui na conversa do "Não dês colo! Eles têm manhas! Vais ficar presa!" Pois então quero pena perpétua de colo, abraços e muito amor!
Sim, eles ficam pesados! Sim, há mais vida para além deles! Sim, a casa não se arranja sozinha e as visitas só pegam nele ao colo, aquilo que mais gostamos!
E tantas vezes ouvi: "Só dás mama?! Dá um biberão! O teu leite é fraco! Ele tem fome!" E tantas vezes sorri porque não sou de me enervar, porque sei que não falam com mau sentido, porque falam do que sabem e os outros não sabem mais do que tu, podem saber outras coisas, não mais do que o teu coração de mãe sabe para os teus filhos.
E, enquanto vivia tudo, sempre pensava que não podia ficar por ali. Não queria ficar presa apenas a ela, tinha que me prender da mesma forma a outros mais, pelo menos mais um, só mais um! E mesmo sabendo o quanto ela ganharia com um irmão, eu pensava em mim, o quanto eu ganharia com mais um filho.
Sim, ficamos com menos tempo! Sim, encarnamos quase todos os dias o papel de árbitro (corrupto, não é possível ser sempre justo! Os gritos e choros toldam-nos o discernimento)! Sim, os gritos dobram! Sim, as noites repletas de chamadas triplicam! Sim, as birras são nossas amigas, de tanto tempo que passam connosco! Sim, já disse que ia desaparecer (vá, foi um dia complicado)!Sim, já tive vontade de desaparecer (vá, durou 5 segundos, mas foram tão bons!)! Sim, volta e meia vem-nos à mente quando tínhamos só um e, na nossa ingenuidade, pensávamos que dava muito trabalho! Burra!
Eu, Cláudia, 44 anos, sou mãe de uma menina de 6 anos e um menino de 3 anos. Todos os dias tenho birras, todos os dias dou um sermão ou dois, todos os dias vejo amuos, todos os dias limpo rabos (quase sempre enquanto tomo a refeição), todos os dias levanto-me umas 10 vezes enquanto como, todos os dias escondo o telemóvel, todos os dias ouço queixas, todos os dias ouço "mãeeeeee" 5000 vezes, todos os dias desejo a hora em que os dois dormem sossegados nas suas camas e eu consigo ver 10 minutos de uma série antes de adormecer no sofá.
Aos que decidiram não ter filhos, força! Estão bem, muito bem. E se pensam que têm preocupações, puff, esqueçam e aproveitem bem essas preocupações!
Aos que decidiram ter apenas um filho, força! Estão bem! Não sabem o que é ser árbitro e é bom não saber!
Aos que decidiram ter mais do que um, ter dois ou três! Aos que deslizaram no quarto ou quinto!Força! Somos muitos! Não és só tu que gritas! Não és só tu que choras! Não és só tu que queres fugir (sozinho) para as Bahamas (mesmo que não conseguisses colocar o pé no avião).
A vida, nós e os outros, ensinam-nos a fazer o nosso melhor. Com ou sem filhos, que cada um encontre o seu lugar no mundo e faça a diferença na sua própria vida.
Eu escolhi ter filhos. Escolhi ter dois. Eles escolheram-me e fizeram de mim uma melhor pessoa.
2 comentários:
Ler este texto, hoje, foi muito reconfortante para mim.
Parece que os últimos dias têm sido de loucos, sempre entre as minhas duas miúdas que parecem não parar de brigar e implicar uma com a outra. É de doidos! :) É bom saber que não estamos sozinhas nesta "loucura boa".
Ainda ontem disse à Lara, a brincar, que qualquer dia tirava umas férias sozinha.
Ela disse que não podia fazer isso de maneira nenhuma senão ela, o bebé , a Maria e até o pai iam ficar sempre a chorar. :D
E pronto, passou-me logo o cansaço e a vontade de ir de férias sozinha (que, na verdade nunca tive mesmo).
Desde que estamos em casa com os 3 que os dias têm alterado de caóticos para mais toleráveis. Mas, estranhamente (ou não) não estou com pressa nenhuma para que estes dias a 5 dem lugar ao inicio das aulas. De alguma forma gosto mesmo desta confusão de família grande em casa pequena em que, mesmo assim, estamos muitas vezes os 5 a ocupar um canto do sofá só para estarmos todos juntinhos, uns em cima dos outros. :D
Adorei <3
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