No parque em conversa com uma amiga do tempo da universidade que tem um filho da mesma idade da minha filha.
Falávamos das escolas dos nossos filhos, do que corria bem ou menos bem. A minha numa escola pública, o dela numa escola privada, na suposta melhor escola da ilha segundo os rakings das avaliações das crianças, pesquisa feita pelo pai.
Eu explicava que até à data não tinha razões de queixa da escola. Sentia que a Alice brincava muito, sem exigências de maior, trabalhos de casa ou outras coisas que não pretendo para a minha filha nesta altura da vida dela.
Ela contava-me que a educadora do filho dela já mandava alguns trabalhos, que um deles foi construir uma história com base em imagens dadas pela educadora. O filho lá foi contando a história e a mãe tinha que a escrever. Depois teria de apresentar na sala aos amigos.
Depois da apresentação perguntou ao filho como tinha corrido:
"A educadora disse que tinha poucas páginas!" a resposta do filho (ao trabalho de 8 páginas)
Ela, em jeito de conversa, perguntou no dia seguinte à educadora como tinha corrido, que o filho disse que eram poucas páginas.
Resposta da educadora:
"Eu não disse que eram poucas páginas, disse que tinha pouco conteúdo..."
Bem, a mãe riu-se (acho que também me ria) e disse-lhe que trabalhos destes pedia ela aos seus alunos do 5º ano.
Estamos a falar de miúdos com 5 anos, estamos a falar de educadoras que deviam estar mais preocupadas com as competências sociais e emocionais das crianças do que com os "conteúdos", estamos a falar de pais que querem o melhor para os seus filhos mas nem sempre esse melhor é a escola com o melhor ranking (coisa fácil de atingir quando, à partida, têm apenas crianças com um bom nível económico, social e de escolaridade dos pais).
Eu preocupo-me com as bases que a Alice terá na construção da sua escolaridade, preocupa-me quando chegar o primeiro ano, se a professora será boa, se a turma será interessada, empenhada e relativamente disciplinada, permitindo que possa aprender solidamente o que será o mais importante em todo o seu percurso académico.
Agora, está na pré, na altura de brincar, de se relacionar, de criar empatia com o outro, de fazer jogos e correr, de conhecer crianças de mundos e percursos diferentes do seu e ainda assim conseguir ligar-se a elas.
Quando falavam de profissões na escola, ela um dia disse-me:
"Sabes, mãe, na minha sala, muitos meninos têm pais desempregados, sem trabalho nenhum."
Esta realidade diversificada é a nossa sociedade. As escolas privadas tendem a passar um mundo mais cor-de-rosa. Os pais trabalham, têm bons carros, boas casas e boas vidas. Nada contra este mundo, longe de mim. Desejo eu que todos fossem assim ou andassem lá perto. São as festas de aniversário com a turma toda, replicada 20 ou mais vezes no ano (consoante o número de meninos da turma), em sítios alugados, com pula-pulas e ofertas para todos. Nada contra, apenas contra de não ser possível para todos os miúdos, nem que fosse uma vez na vida.
Pena que a vida não seja bem assim... pelo menos para todos. Pena que a vida da maioria não passar de festas com um bolo em cima da mesa da cozinha e uma ou duas ofertas para desembrulhar. Os amigos da escola ficam na escola e em casa há pais e irmãos.
Eu quero o melhor para a minha filha (como qualquer pai) mas quero que ela viva com os pés assentes no chão, que aprenda a valorizar um bom amigo (independentemente de os pais estarem a trabalhar ou desempregados), que se ligue ao outro, que saiba que nada é garantido, que aprenda a valorizar mais os sentimentos que os bens materiais, que na vida existirão sempre aqueles que têm muito, muito mais do que ela alguma vez alcançará em termos de bens materiais e outros que nunca chegarão perto do que ela tem, que aprenda que nada se leva deste mundo a não ser as recordações da pessoas que conhecemos e daquilo que aprendemos com elas.
P.S. Eu juro que este post ia ficar apenas na conversa do parque, mas... às vezes não me calo.