ALICE

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segunda-feira, 16 de julho de 2012

Desamarrar o fio

Como é sabido, lá em casa saiu-nos a sorte grande, ou seja, temos a possibilidade de criar a nossa filha no seu lar, numa partilha de horários e tarefas entre pai e mãe. Isto deve ser o sonho de qualquer pai mas com esse sonho vem talvez o excesso de proteção ou a dificuldade de nos distanciarmos mais de 100 metros do nosso rebento.
Não houve com o final da licença a mudança de situação, nem para ela, nem para nós. Não ouve o "corte" ao deixá-la numa creche, ama ou familiar. Não houve a confiança que tem de exisitr ao entregar nos braços de outrem o nosso maior tesouro.
Assim sendo, desde que veio ao mundo, a Alice (conhecendo já outros colos) apenas conhece os cuidados e atenção prolongada do seu pai e da sua mãe. Já com 6 meses nunca ficou 5 minutos que fosse com outro alguém, nem com os nossos pais, supostamente as pessoas em quem mais confiamos.
Eu tenho consciência (falo por mim, não sei o pai) que temos que começar a desamarrar alguns nós de ligação. Temos que deixá-la usufruir dos cuidados de quem a ama como nós. Mas não é fácil... não é fácil para quem se habituou à sua presença e companhia... não é fácil a quem, naturalmente, a vê como extensão de nós próprios, ligados por um fio invisível que não tem mais de 100 metros de extensão. A culpa não é nossa, é do fio que não nos permite...
Facilmente nos habituámos a juntá-la à nossa rotina (alterada pela dela) levando-a connosco para o mercado, o hipermercado, a rua, o café, o shopping, a ginástica, a esteticista, a casa de amigos. Está connosco e nós com ela 24 sobre 24h. Facilmente nos habituámos que a nossa vida social fora de casa não pode ultrapassar as 21h, altura em que a sua necessidade de dormir na sua cama é maior que tudo à sua volta.
Pode parecer demasiado ou nada demasiado, afinal é a nossa filha, é connosco que deve estar. Contudo, se outros casais não têm por perto nenhum familiar a quem possam deixar a guarda do seu rebento enquanto vão a um compromisso qualquer, nós temos. Temos pessoas de sangue, de confiança, de coração mas nunca o fizemos.
Aos poucos sinto a necessidade de o fazer, ainda que fosse por 1 ou 2 horas. Aos poucos acho que é importante que ela se sinta segura com outras pessoas que não os pais. Aos poucos sinto o quanto me faria bem jantar com o pai num ambiente livre de chuchas e onde as minhas mamas passassem a ser objecto de outros desejos que não incluissem encher a barriga.
Não é fácil gerir uma série de sentimentos, preocupações e ansiedades. Muito menos fácil é gerir as diferentes necessidades enquanto casal, enquanto indivíduos e enquanto pais.
Há momentos em que me sinto incapaz em todos os papéis que me competem, há momentos em que me sinto apenas mãe, outros em que tenha que colocar a profissão mais alto, outros em que apenas quero voltar a sentir-me mulher amada e desejada.
O tempo deve ajudar, como deve ajudar sentirmos que os nossos filhos vão ficando cada vez mais autónomos e mais libertos de nós nas suas mais ínfimas necessidades. Ajuda também capacitarmo-nos que não somos os únicos no mundo que sabemos fazê-los calar (quando chorar), alimentar (quando têm fome) ou dar-lhes amor (quando sentem medo).
Não posso dizer que será hoje ou já amanhã que estaremos preparados para a "deixar" em outro colo. Sei que o nosso tempo (de pai e de mãe) não chegará na mesma altura. Sinto que passados 6 meses consigo preparar-me para desamarrar o fio invisível, ainda que apenas por um par de horas. Sinto que é importante fazê-lo por ela, por mim e por nós.
O que para uns é tão fácil, para outros pode ser uma montanha. Um dia, quando menos esperar, terei escalado essa montanha e sentir-me-ei feliz e em paz na mesma...


P.S. Lembrei-me que até já assistiu a reuniões e hoje vai a outra com o contabilista de uma associação que presido.


4 comentários:

Elix disse...

Adorei ler-te!!!! Eu compreendo-te bem.... eu comecei a trabalhar quando a piolha já tinha 6 meses, mas até aí acho que sái uma vez sem ela um jantar foi muito... tenho a felicidade de ter a minha mãe por perto e sei que sem sermos nós pais, ninguém melhor que os seus avós... mas ainda assim habituamo-nos á sua presença e é tão dificil deixá-la! Mas a verdade é que é bom para nós e para eles.. temos que ser fortes ;D Eu não concordo que seja muitas vezes (porque gosto de aproveitar os bocadinhos que tenho com ela) mas uma vez por outra não tem mal aproveitarmos uma ou duas horas sermos apenas nós! bjs*

Kaipiroska disse...

Adorei ler este teu desabafo CS. Ainda falta algum tempo para eu sequer chegar a essa fase, mas muito sinceramente espero conseguir desprender-me com mais facilidade que vocês, mas claro que não posso falar sem conhecimento de causa. Daqui a uns meses logo darei notícias :)

Sofia Ferreira disse...

Onde é que eu já vi esse filme?! :)

Anónimo disse...

Como te compreendo!
Obriguei-me a deixar o meu tesouro no dia que fez 2 meses, por 1 hora com a avó. E andei colada ao telemóvel, a contar os minutos para o ir buscar. No entanto, reconheço que foi o melhor que fizemos. Para ele e para os pais, que ainda que muito facilmente nos esqueçamos, continuam a ser pessoas, para além de pais e a precisar dos seus momentos como casal. Não te obrigues. Chegará o dia em que sentirás como natural deixarem a princesa alguns momentos. E a cada vez custa menos!
Beijos nossos,
CC