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terça-feira, 3 de outubro de 2017

A ti

Mesmo sabendo que possas nunca chegar a ler, escrevo-te... talvez este exercício mental e sentimental seja mais para mim do que para ti, por isso, acho que não ficarei triste se nunca chegares a ler.
Somos amigas, considero-te minha amiga, uma amiga que não é de infância nem de curso mas que apareceu na fase mais importante e desafiante da minha vida. Tens sido minha companheira de viagem neste mundo complicado que é a maternidade. Pegas ao colo os meus medos e receios e festejas comigo as minhas vitórias.
Somos parecidas mas também tão diferentes, percursos diferentes, vivências distintas que nos levaram a um mesmo local, à mesma hora onde nos cruzámos e conhecemos de colo cheio. Naquele momento, naquele local, éramos iguais, tão iguais que a empatia entre nós cresceu sem esforços.
Os anos passaram-se e a amizade cresceu e ficou mais forte. Mas a amizade não é livre de discordâncias, desentendimentos, mal entendidos ou bem entendidos, de visões distintas e escolhas diferentes. Mas isso não é mau, isso significa que somos humanos, que às vezes somos grandes e bondosos e outras vezes pequenos e egoístas. Significa que podemos desiludir o outro, magoá-lo ou não apoiar quando mais precisa. Isto revela-nos as nossas imperfeições, nem sempre visíveis a olho nu. Nesses momentos sentimo-nos pequenos, envergonhados das nossas falhas e conscientes de que a perfeição (que às vezes sonhamos) não existe.
Eu estou tão longe dessa perfeição, em todos os âmbitos da minha vida profissional ou familiar, e reconheço que, às vezes, possa demonstrar que sou muito segura, que sei sempre o que faço ou encontro sempre a decisão perfeita. Reconheço que, geralmente, estou tão certa do que digo e afirmo, que me esqueço de olhar à volta, esqueço-me que nunca há uma única verdade e que, mesmo que houvesse, não tem que ser a minha verdade.
O nosso percurso na vida não é linear, é cheio de encruzilhadas, de sinais nem sempre fáceis de se ler. Nós não somos estanques, massas corporais concluídas a nível físico e mental. Eu tenho uma base, uma base sólida e que espero ser um bom exemplo para os meus filhos, o resto é moldável, o resto é permeável ao meio em que vivemos, às pessoas que conhecemos e às vivências que temos.
Eu estou longe de estar concluída e nunca achei que a minha personalidade fosse imutável, tivesse um registo definitivo que me seguiria até ao último dia e a maternidade é a prova disso.
A ti não te quero prometer nada, preciso de promete-lo a mim própria que não me vou esquecer que não há verdades absolutas, que a minha verdade e a minha forma de estar na vida, não precisa de ser imposta a ninguém, não precisa sequer de ser valorizada como a melhor forma em relação às outras. Vou prometer a mim mesma que não vou esquecer aqueles que mais estimo, das suas verdades e escolhas, tão (im)perfeitas como as minhas.
Não vou pedir-te que confies em mim pois tal implicaria que me lesses. Vou deixar que o tempo te diga que podes confiar em mim...

Esta não é, propriamente, uma fase da minha vida em que tenha a força necessária para andar em frente sem fraquejar ou a serenidade para aceitar os retrocessos, mas vou manter o foco. Dizem que a vida encarrega-se de meter tudo em ordem e que tudo vem no tempo certo. Vou confiar... em mim... e na vida que a vida me reserva.
A ti, minha querida amiga, desculpa-me as vezes em que levantei a minha verdade como se fosse uma bandeira digna de seguidores e desculpa-me as vezes em que só vi o meu umbigo e esqueci que o sol, nem sequer os meus filhos, andava à volta dele.

Abraço-te!

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