A cirurgia

A cirurgia não me trouxe apenas um rosto mais alinhado, trouxe-me um amor cuja dimensão desconhecia.
Quando eu e B. começamos a namorar já eu estava de aparelho na boca e uma operação sem data definida.
Conheceu-me assim, a meio do tratamento, de rosto torto e os dentes cheios de ferros. Apaixonou-se por mim, pelo sorriso metálico e as tolices que saiam por esta boca fora.
Logo no início, disse-lhe que ia ser operada e ele só me respondeu: "Para mim és linda assim sem operação mas se é algo que queres muito eu apoio-te e vou estar sempre ao teu lado .Quando chegar o dia vou estar do teu lado."
Eu achei bonito da parte dele, mas também achei que eram as coisas que se dizem na altura do encantamento e que depois não é bem assim. O tempo com B. ensinou-me que ele não diz por dizer e deve ser por isso ele não diz muito.
Mais de um ano depois a operação é marcada. Ele é a primeira pessoa a quem ligo com as lágrimas a cobrirem-me o rosto.
Vou de malas aviadas quase 2 meses para Lisboa e é B. que deixa de trabalhar, deixa a sua casa e a sua família com mala aviada também para ficar ao meu lado desde o primeiro minuto.
Esta cirurgia revelou-me um amor incondicional, uma paciência sem limites, um carinho e atenção incomuns.
Ele deu-me banho, ele fez e ralou sopas, ele controlava e dava-me a medicação, ele fazia-me os batidos, ele dizia-me todos os dias que estava linda, mesmo quando me babava sem qualquer sensibilidade do nariz para baixo. Durante os 2 meses ficou comigo 24horas sob 24 horas e nunca me chamou de chata.
Agora anda-se a pagar por esses tempos e chama-me chata sempre que pode...

Com ele foi tudo tão mais fácil...