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sábado, 5 de março de 2011

Para a Joana

Este blog, como tanto outros, cria uma espécie de comunidade. Se tantos blogues são fantasias ou meias fantasias, outros tantos são reais ou meio reais, de partilha de sentimentos e vivências que nos tocam e tocam aos outros.
Por causa do meu post 3 ANOS, alguém bem longe do lugar onde estou partilha uma história semelhante com a minha. Tanto eu como ela não escreveu nem metade do que se passou ou do que se sentiu mas tanto eu como ela sabemos como foi, o que custou, o que não custou.
Joana, a sua história é muito semelhante à minha e espero que a sua felicidade seja semelhante à minha. Não sei quantos parafusos tenho na cara, sei apenas que estão a prender os dois maxilares, que estão no queixo e à volta do nariz, precisamente nos sítios que tiveram de partir e cortar. Sei também que não apitam no aeroporto apesar do gozo que também fazem de mim, pois raras são as vezes que apitam comigo.
Também eu, durante 10 anos, fiz muitos kms, mais ou menos 2 000 km, durante os últimos anos, todos os meses. Faria-os todos novamente como se fossem 2 km de cada vez.
Tive que usar 2 aparelhos pois tive o azar de iniciar o tratamento com um médico que não estava preparado para a complexidade da minha boca. Assim, foram uns 3 com um e 6 ou 7 com o segundo. Eu perco-me nas contas e no tempo... sei que fui ao médico pela primeira vez em 2001 e ainda hoje lá vou. Já não tenho aparelho, apenas um de contenção colado no maxilar inferior que ficará para todo o sempre e que não tenho de tirar e pôr. Em cima, não precisei. Acho que tantos anos de aparelho fizeram com que os dentes assumissem a posição sem se terem movimentando até hoje.
A sua história está longe de ser a única e, infelizmente, nem todos sabem que existe tratamento, nem todos podem aceder a esse tratamento, nem todos têm a oportunidade de se cruzarem com bons médicos. Eu fiz tudo na privada porque só queria um médico e só a um médico deixaria que me abrisse o rosto quase todo. Apenas nele depositei toda a minha confiança e quando me deitei na sala de cirurgia não havia nenhum vestígio de medo que pudesse correr mal. Ouvi falar de outros médicos mas também ouvi falar de muitas operações que não correram bem e que tiveram de ser encaminhados para o meu médico para correcção.
Joana, agora tudo está bem e acabou em bem. As suas palavras deixaram-me feliz... Desejo-lhe o melhor.

Comentário da Joana:
Ler este post fez-me arrepiar toda... Há já algum tempo que sigo o seu blogue e já tinha reconhecido várias passagens. Não por conhecer a CS mas por me rever nas palavras. E ler este post foi quase como ler a minha história. Nunca conheci ninguém que tivesse sofrido do mesmo que eu, apesar de os médicos me dizerem que era uma situação bastante comum. Anos e anos de consultas no Hospital de Coimbra e nunca vi ninguém com semelhante problema nas filas de espera para as consultas de Estomatologia e Ortodôncia.

Também eu dei uma grande queda, tendo aterrado de queixo no chão, quando tinha 10 anos. Pouco tempo depois, surgia o problema que me levaria a constantes consultas em médicos, dentistas, cirurgiões, um pouco por todo o país, não encontrando alguém que soubesse como me ajudar. Só quando tinha 17 anos e no fundo do poço com uma deformação que ninguém achava importante (afinal, não eram eles que viviam com um maxilar fora do sítio), um médico do Hospital Universitário de Coimbra emocionou-se e no mesmo momento formou uma equipa que me acompanha até hoje (tenho agora 25 anos). Ninguém sabe se foi a queda que provocou isto, ou se foi uma malformação genética. Desde os 17 anos que faço viagens mensais (muitas vezes foram mais do que uma vez por mês) para Coimbra (moro a 200 km de lá). Usei aparelho durante 4 anos, fui operada está quase a fazer 5 anos, tirei o aparelho em finais de 2006 mas até hoje uso o aparelho de contenção quase todas as noites e de acordo com os médicos que me acompanham, o mais provável é ter que o usar o resto da vida. Se estou mais uns dias sem o usar, os dentes ressentem-se logo. Também a mim me partiram os maxilares. Conto com 24 parafusos na minha boca e toda a gente adora fazer as piadinhas com os detectores de metais dos aeroportos. Durante 6meses vivi a sopas e comida triturada e muitos elásticos a prenderem os maxilares um ao outro. Não fiquei perfeita, não tenho o maxilar certinho certinho, há um pequeno deslocamento de milímetros, mas hoje não é nada comparado com o desvio que foi um dia. Nunca mais vi o médico que um dia se comoveu comigo depois desse dia. Mas a promessa dele manteve-se e a equipa formada por ele fez o seu trabalho e cumpriu o seu objectivo.
Fico feliz que também tenha corrido tudo bem consigo =)
As maiores felicidades!!
Joana
5 de Março de 2011 21:51

3 comentários:

POPITA disse...

Desejo o melhor às 2! Bonitas histórias de uma vida...

Anónimo disse...

Muito obrigada pelas suas palavras querida CS :)
Também eu fiz parte dessa lista de pessoas que não sabiam que existia tratamento, durante todos os anos que desesperei à procura de alguém. Espero que mais pessoas na nossa (passada) situação vejam o seu e o meu testemunho e se apercebam que há tratamento possível e que apesar de termos encontrado esse tratamento em sítios diferentes, ambas fomos bem sucedidas.
Continuarei por aqui a lê-la =)
Tudo de bom!
Joana

Ba disse...

É sempre bom a partilha. Achamos que por vezes só nós temos determinados problemas e existem pessoas com os mesmos.