To SJ

Eu sou daquelas pessoas que, sem serem umas cromas, adoraram estudar, passar anos a fio na universidade (não continuo porque os doutoramentos são muito caros), fazer muita formação e estágios onde fosse possível. Sou daquelas pessoas que sempre gostaram da escola e achavam que iam estar a estudar a vida toda.
Assim sendo, sempre que via uma oportunidade de estudar lá ia eu, chegando a deixar um emprego (ser professora) para fazer um mestrado com dedicação a tempo inteiro. Mais tarde, deixando novamente um emprego (ainda professora) para partir para um país distante fazer um estágio não remunerado. Coisas de jovem, por isso, hoje em dia, no meu nome só tenho um carro velho, sem autorádio mas com tapetes novos oferecidos pelo meu mano.
Indo ao cerne da questão: Um dia, vejo uma formação que me parecia bastante apelativa: MS Project - Gestão de Projectos.
Lá fui eu feliz e contente da vida quando caio numa formação de arquitectos e engenheiros que sabiam à partida que iam trabalhar com uma aplicação informática mais direccionada para obras e grandes projectos de construção.
Quando pensei que a Gestão de Projectos fosse num sentido mais lato do termo estava redondamente enganada. Na altura, lembro-me de dizer para mim: "Que razão estará por detrás disto? Por que terei vindo eu parar aqui quase em queda livre? Não será por ser uma nerd...?"
Não tive logo e já as respostas às minhas questões metafísicas mas saberia que, mais cedo ou mais tarde, algo se revelaria e seria algo majestoso.
Pois bem, eu de um lado da sala e uma arquitecta do outro lado que ficava virada para mim. E eu: "Puff... tens a mania, tens!" Isto porque sempre que se fazia um exercício ela era a primeira a terminar e ficava a olhar para nós com um letreiro na testa: "Ainda não terminaram???"
No final, ela lá soltava o seu valor: "Deu-me 94" e o raio do valor dela nunca batia com o meu e o raio do valor dela estava sempre certo e o meu errado.
Trocámos todos números de telemóvel e após o fim da formação (acho eu que ela tinha simpatizado comigo pois dizia-me pra depois combinarmos café ou então queria continuar-me a humilhar levando consigo um portátil e obrigando-me a usar o MS Project) ligou-me várias vezes para tomarmos café com mais outra da formação.
Nunca se proporcionou e ela deve ter achado que eu tinha uma vida muito ocupada ou que a andava a evitar. Era mais a primeira que a segunda.
Um dia falámos pelo messenger, um dia precisei da sua ajuda profissional, um dia precisou ela do meu ombro para desabafar, um dia sem saber como ficámos amigas e nunca mais virámos as costas uma à outra.
Hoje digo muitas vezes que fiz aquele curso para a conhecer, para construir com ela uma amizade sincera e de coração aberto. Hoje sei que os meus valores errados naquela aplicação que nunca mais usei foram um caminho para chegar a ela, a sabichona. Hoje sei que se foi um acaso feliz que nos uniu não haverá nenhum acaso infeliz que nos afastará.
Eu sei que posso contar com ela. Ela sabe que pode contar comigo. Estamos ambas longe de sermos perfeitas (eu mais do que ela, pois a SJ domina bem aquele programa, raios a partam) mas os nossos caminhos se cruzaram, deram frutos. Já vi as suas lágrimas e as suas imensas gargalhadas, já vi a sua barriga crescer, tal qual a minha cresce agora e já a vi ser mãe tal qual um dia também serei.
Não há palavras que expliquem uma amizade. Não há palavras que definem um sentimento. Existem atitudes que levamos connosco, que nos levantam do chão e que nos seguram o coração. O dela estará comigo sempre que ela precisar de um descanso...
Hoje faz 38 anos e tem uma vida pela frente. Para ela, tudo o que desejo para aqueles que mais amo na vida...

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