Hoje, por razões menos felizes, passei o final de tarde e serão no hospital, do lado de uma amiga e da sua (nossa) princesa. Conversámos imenso enquanto a princesinha Clara já dormia.
Ela contava-me:
"Sabes, ontem, enquanto estava nas urgências reparei numa rapariga, talvez mais nova do que eu. Estava atrás de umas cortinas, mas percebia-se que tinha um lenço na cabeça, tinha perdido as sobrancelhas, notava-se que devia ter cancro. Reparei que ela estava fixada em mim e na Clara. Espreitava por entre as cortinas e ficava a olhar-nos. Fiquei sem jeito, fingi que não estava a ver e imaginava: "Ser calhar é mãe ou então gostava de ser e vê que a sua vida..." Ela deitava constantemente líquidos pela boca e tudo aquilo me impressionava e deixava triste.
De repente vão buscá-la. Abrem a cortina e ela aparece com uma barriga enorme já em final de gravidez. Eu senti-me tão pequena, tão pequena mesmo perante ela..."
Realmente nós somos tão pequenos, tão pequenos nas nossas queixas, nos nossos problemas, nas nossas chatices. Há vidas, tantas vidas, tão valiosas como as nossas e tão maiores do que nós, nos seus problemas, nas suas vidas.
E parece tão injusto, parece sempre tão injusto... Por quê? O por quê de tanto sofrimento a alguns e tão pouco ou nenhum a outros?
4 comentários:
E por isso mesmo devemos aproveitar o máximo cada momento das nossas vidas. E esses mesmos momentos com as pessoas que mais amamos.
:)
O nosso mundo parece sempre maior do que os outros...Mas a verdade é que há mundos maiores, mais pesados e tão difíceis de carregar que fazem-nos sentir quase ridículos...
...Nada como aproveitar cada segundo...
...Como dizia o meu Papai: "preocupar para quê? há sempre alguém pior do que eu...E esta vida é para ser vivida até ao fim..."
Grande lição. Tomei a liberdade de a copiar para o Candilhes. Espero que não fiques muito chateada.
Temos que nos confrontar com determinadas realidades para fazermos os nossos próprios exames de consciência. Somos pequenos e egoístas, alheios ao que nos rodeia...
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