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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Cada vez menos tenho compaixão pelos que podem "escolher"

Carta enviada de uma mãe para outra mãe no Porto, após um telejornal da RTP1:

De mãe para mãe...
Cara Senhora, vi o seu enérgico protesto diante das câmaras de televisão contra a transferência do seu filho, presidiário, das dependências da prisão de Custóias para outra dependência prisional em Lisboa.
Vi-a a queixar-se da distância que agora a separa do seu filho, das dificuldades e das despesas que vai passar a ter para o visitar, bem como de outros inconvenientes decorrentes dessa mesma transferência.
Vi também toda a cobertura que os jornalistas e repórteres deram a este facto, assim como vi que não só você, mas também outras mães na mesma situação, contam com o apoio de Comissões, Órgãos e Entidades de Defesa de Direitos Humanos, etc...
Eu também sou mãe e posso compreender o seu protesto. Quero com ele fazer coro, porque, como verá, também é enorme a distância que me separa do meu filho. A trabalhar e a ganhar pouco, tenho as mesmas dificuldades e despesas para o visitar.
Com muito sacrifício, só o posso fazer aos domingos porque trabalho (inclusivé aos sábados) para auxiliar no sustento e educação do resto da família.
Se você ainda não percebeu, sou a mãe daquele jovem que o seu filho matou cruelmente num assalto a uma bomba de combustível, onde ele, meu filho, trabalhava durante a noite para pagar os estudos e ajudar a família.
No próximo domingo, enquando você estiver a abraçar e beijar o seu filho, eu estarei a visitar o meu e a depositar algumas flores na sua humilde campa, num cemitério dos arredores...
Ah! Já me ia esquecia: Pode ficar tranquila, que o Estado se encarregará de tirar parte do meu magro salário para custear o sustento do seu filho e, de novo, o colchão que ele queimou, pela segunda vez, na cadeia onde se encontrava a cumprir pena, por ser um criminoso.
No cemitério, ou na minha casa, NUNCA apareceu nenhum representante dessas "Entidades" que tanto a confortam, para me dar uma só palavra de conforto ou indicar-me quais "os meus direitos".



Todos nós fazemos escolhas, traçamos o nosso destino e vivemos com as escolhas tomadas. É isso que nos faz dizer que somos "livres". Por vezes, escolhemos pelos outros, traçamos o destino dos outros sem perguntas ou permissões. Isso não é liberdade é a invasão da liberdade do outro.
Quem está na cadeia, fez a sua escolha, decidiu a sua vida e vive com isso. Quem morreu viu as suas escolhas roubadas, usurpadas e o seu destino decidido por um estranho.
Em analogia com o que tanto se fala, Renato Seabra fez uma escolha, Castro Castro "vive" com a escolha de outro. O primeiro foi livre de escolher o seu destino, ao segundo foi-lhe roubada a liberdade de escolher o seu próprio destino.

Natalie Portman - GO Airtran by Todd Plitt, January 2011

3 comentários:

Joana disse...

Também já tinha lido a carta. São coisas assim que me deixam completamente de rastos!

CS disse...

Não sei o que é sentir-se assim...

PIRII disse...

cara prefetxa!!!
assim é que é!!!

a humanidade está doente, é o que é.