Ambrósio

Eu tenho o azar de trabalhar ao lado de uma escola do 2º e 3º ciclo. E digo azar não por ouvir os gritos deles no recreio ou por me atirarem pedras à janela (que imagem ;)!) mas pelas filas de carros que se fazem na entrada principal e na traseira da escola para os pais deixarem e irem buscar as suas crias. É tal a fila que, se os carros tivessem uma fita de tule na antena, ia pensar que estava a integrar um casamento de alguma família real.

E eu fico a pensar (a fila é longa e dá para colocar os meus pensamentos em dia): "Será que estes pais não trabalham? Estão aqui parados às 9H00, 9H30, 13h30, 13h40, 14h00, 16h00, 16h30... Parados mesmo à porta, não vá a cria ficar cansada de andar 100 metros. Será que estes miúdos nunca colocaram os pés num autocarro? Será que entram no carro e chamam o pai de Ambrósio?"
Pela boca morre o peixe e talvez quando for mãe me transforme numa Ambrosina que terá de fazer uma ginástica todos os dias para andar no pega e leva, vai buscar e vai levar. Eu não sou assim tão velha, não sou sequer do tempo que o arroz custava 5 escudos mas sou do tempo de irem camionetas cheias de miúdos, sou do tempo de andarmos muito a pé, sou do tempo de nos sentarmos nas paragens de autocarro à espera, sentados no chão de mochilas, a fazer os trabalhos de casa para compensar o tempo de espera (as explicadoras eram para os filhos do presidente da câmara e grandes empresários, o resto levava carolos na cabeça para aprender melhor).
Será que é o perigo nas ruas que move estes pais a deixarem os meninos à porta de todas as actividades das suas preenchidas agendas?
Não sei, nem quero julgar, nem tenho o direito de o fazer. Só sei que os miúdos de hoje estão cheios de regalias, cheios de mordomias que tomam como direitos seus, como conquistas vitalícias.
Já assisti a zangas ao telemóvel porque têm de esperar mais 10 ou 15 minutos pelo seu Ambrósio. Que geração sairá de todos estes direitos e tão poucos deveres?

Credo!!!!! Deve ser muito grave quando parecemos os nossos pais a falar...